Por Nicolle Abreu
18 de set de 2020 Escola
Nos dias 25 e 27 de agosto aconteceu o segundo módulo da Convenção par 2020. Com três edições anteriores de sucesso – 2018, 2019 e 2020 – a sequência do evento trouxe personalidades e pautas pertinentes para o mundo da educação. O tema desse ano foi “Outros mundos, a mesma conexão”, mostrando que as limitações físicas não podem impedir a vivência de um evento tão marcante e incrível.
A Convenção par é uma oportunidade para centenas de educadores de escolas parceiras de todo o Brasil compartilharem aprendizados, experiências e reflexões. As temáticas da educação e gestão escolar unem os participantes que, mesmo em um novo mundo, continuam com a mesma conexão.
A programação foi traçada para partilhar saberes que contribuem com o crescimento da escola e com a resolução de desafios diversos. A programação contou com:
25 de agosto
Celso Antunes | Como ensinar valores, estimular inteligências e discutir-se emoções
Gabriel O Pensador | Você pode ser diferente
27 de agosto
Lígia Fascioni | A mente do futuro
Rogério Chér | Os novos desafios da educação: autoconsciência, autogestão, empatia e destreza social.
O professor Celso Antunes é formado em geografia pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em Ciências Humanas, especialista em Inteligência e Cognição, é membro consultor da Associação Internacional pelos Direitos da Criança Brincar, além de membro e fundador da entidade Todos Pela Educação.
O tema “Como ensinar valores, estimular inteligências e discutir-se emoções” é abordado por Celso refletindo sobre as grandes mudanças que ocorreram nos anos 1990 relativo aos conhecimentos da mente humana. As novas máquinas permitiram a realização de exames que desmistificaram algumas questões sobre o funcionamento do cérebro.
“é possível identificar a mecânica com sinais físicos, como a bondade, humor, crueldade, altruísmo, tudo isso pode ser naturalmente educado. Pode ser ensinado e me pergunto até, por que não ensinar também? E aí se perguntaria, ‘mas com qual disciplina?’ Eu diria que qualquer professor de uma equipe deveria reservar uma de suas aulas de conteúdos conceituais por mês, assim teriam a oportunidade de, sem prejuízo em seu trabalho, trabalhar as emoções”
O professor tratou durante a live a importância de trabalhar as habilidades socioemocionais. Contudo, ele mesmo ressalta que é preciso se livrar de mitos acerca do desenvolvimento dessas habilidades, como o mito da predestinação, de que todos nascemos predispostos e isso nos acompanha até o final da vida. A segunda pontuação feita por Celso Antunes diz respeito à descoberta de novos métodos de aprendizagem, já que o discurso é o método de ensino tradicional. Para ele, existem outras formas de dar aula e outros limites para aprender.
Celso sugeriu diversas atividades que podem ser trabalhadas fora do modelo comum de sala de aula para passar valores para os alunos. O primeiro exemplo é a atividade de autógrafos. O processo envolve pedir aos alunos que recolham assinaturas de seus colegas em um dado momento da aula. Contudo, para receber as assinaturas é preciso assinar o caderno dos outros alunos. Desse modo, é possível transmitir aos jovens a ideia de que para receber algo é preciso também doar. Ele ressalta a importância de estimular os jovens.
Para tratar sobre o difícil momento de pandemia e como lidar com todas as questões que surgiram nos últimos meses, a par convidou o compositor, empresário, ativista social e escritor, Gabriel O Pensador para tratar do assunto. Dirigindo-se diretamente aos mantenedores de escolas e professores, ele agradeceu seus educadores e ressaltou a importância da educação em sua trajetória.
Gabriel iniciou sua fala recitando um poema que escreveu para a avó, sua primeira professora. É bastante comum, de acordo com ele, que educadores usem suas músicas em sala de aula para tratar de assuntos pertinentes, citando a música “linhas tortas”. Essa canção mostra o primeiro livro do compositor, Diário Noturno, trabalho que acabou por incentivar a escrita de muitos alunos. E, de acordo com o próprio, esse é o objetivo de Gabriel, incentivar a escrita e a expressão.
O ambiente escolar é muito importante, de acordo com Gabriel, porque é um lugar seguro e que permite que os alunos se expressem. Ele ressalta que a figura do professor é crucial para que os alunos se sintam acolhidos e livres para se expressar.
O escritor apresentou durante a convenção alguns de seus livros, inclusive o ganhador do Prêmio Jabuti “Um Garoto Chamado Rorbeto”. O livro conta a história de uma criança em fase de alfabetização que causa uma grande confusão ao tentar escrever utilizando a mão esquerda. O garoto que possui seis dedos na mão direita tem medo da reação de seus colegas e por isso tenta esconder sua condição. O livro não só ressalta a importância da literatura e da escrita, como levanta debates importantes sobre o encontro com as diferenças.
Além disso, Gabriel relembrou os tempos em que criou uma ONG na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro. O projeto, que atendia aproximadamente 30 crianças da comunidade, chegou a levar as crianças para a Feira Literária Internacional de Paraty (FLIP). O compositor cita essa experiência para ressaltar como o trabalho com a leitura e a linguagem pode mudar completamente a vida de um adolescente.
A doutora Lígia Fascioni é engenheira e escritora e falou na convenção sobre como a tecnologia, vista por muitos com mal olhos, pode encurtar distâncias e facilitar as práticas, além de dar dicas sobre a mente do futuro. Falando sobre o momento que vivemos, chamado de revolução 4.0, com muitas novidades e incertezas também.
Para Lígia, a revolução 4.0 será a mais transformadora para nossas vidas assim como a primeira revolução industrial foi para a época. Isso porque começaremos a utilizar massivamente a Inteligência Artificial. Ela exemplifica usando as sugestões de preferências nas nossas redes sociais e dados de compras. A inteligência artificial é utilizada para mapear nossos gostos e sugerir compras e atividades compatíveis baseadas nas nossas ações dentro da internet.
Sua reflexão parte da importância dos educadores nesse momento de revolução que vivemos. Lígia, diz que o momento atual é um grande vácuo em entre o velho e o novo. Sabemos que o que já existiu não funciona mais, mas não sabemos ainda o que virá a seguir. E é nesse momento de incerteza que a figura do educador se torna tão importante. São eles quem estão educando e preparando os jovens que realizarão essas mudanças tão esperadas.
Além disso, Lígia nos mostra a profundidade das transformações advindas da automação dos trabalhos. Ela cita uma experiência em que uma inteligência artificial poderia substituir o trabalho de um juiz ao realizar sentenças. Mesmo para um profissional altamente qualificado já existe a possibilidade de substituição. Contudo, ela nos lembra que as máquinas são capazes de realizar as atividades que subestimam a inteligência humana, então, sua aplicação para realizar atividades enquanto o ser humano desenvolve de maneira melhor os trabalhos que despendem de suas habilidades cognitivas, seria a melhor maneira de direcionar essas inteligências artificiais.
A pesquisadora relembra as 4 revoluções que vivemos e destaca como a educação se estagnou na segunda revolução, marcada pelo fordismo. Nós ainda utilizamos um programa, um currículo e aplicamos para todos os alunos como se eles fossem iguais. Isso faz com que os jovens saiam da escola padronizados, iguais e assim dificilmente realizarão feitos diferentes. Estamos na quarta revolução industrial. Espera-se que esses jovens saiam da escola e criem coisas novas, mas como eles farão isso com um modelo de ensino tão defasado?
“justamente quando eu tenho as ferramentas para customizar cada pessoa, eu pego a educação que é um trabalho muito complexo e o padronizo para que todos sejam iguais.”
Ela exemplifica que, em uma sala com 30 alunos, os 2 ou 3 que estão acima da média vão acabar se entediando. Aqueles 3 ou 4 com dificuldades de aprendizado acabam realizando indisciplinas, enquanto os outros vão tentar se adaptar. Por isso, é muito importante que as escolas adaptem seus métodos e apesar da pandemia ter revolucionado os meios de chegar até o aluno, é importante lembrar que as aulas remotas apenas modificaram os veículos de aprendizagem, mas não os métodos em si.
Revolucionar é mudar o modelo. É pensar em uma maneira de customizar uma experiência para que cada aluno consiga tirar o melhor dela. Para que eu consiga pegar a curiosidade dele e transformar isso em interesse, em um aprendizado mais profundo”.
Outra reflexão importante levantada por Fascioni diz respeito a ensinar o aluno a aprender nesses novos modelos. Isso porque ele terá que desaprender e reaprender. Estudos dizem que as pessoas que viverão 200 anos já nasceram, e por isso elas precisam dessa habilidade. Essas pessoas terão em média cinco carreiras durante a sua vida, e por isso é importante essa adaptabilidade.
O professor, consultor e conferencista Rogério Chér falou sobre como o engajamento, o poder que temos sobre nós mesmos, pode nos levar ao que ele chama de: Felicidade autêntica. Para falar sobre a ciência do comportamento organizacional, Chér conta a história da famosa mercedes vermelha de Nelson Mandela. Após a libertação do ativista, um grupo de trabalhadores de uma fábrica da Mercedes Benz se prontificou a montar um carro para presentear Mandela. O acordo seria que os profissionais teriam acesso às peças dos carros, contudo, não receberiam nada pelo trabalho que seria realizado em suas horas extras. Em apenas 4 dias o carro estava pronto e foi dado de presente ao presidente.
Rogério nos mostrou que as pessoas sentem fome por sentido na vida, e que as organizações precisam compreender isso. É preciso dar a elas um significado maior no que fazem e no que experimentam. E o trabalho precisa ser o lugar para estimular essa sede por significado.
“Trabalhar com educação já é acreditar em um propósito maior e isso é ótimo, mas mesmo assim, todos nós que somos profissionais do setor de educação e que somos gestores de organizações ligadas à educação temos o desafio de evitar o desengajamento”
Para Chér, compreender a dinâmica do engajamento é fundamental. Isso porque, é natural do ser humano querer se engajar. Engajamento é um estado emocional, ele não é racional. Por isso, Rogério destacou a importância de um líder, um chefe que sabe guiar sua equipe e engajar a todos de uma maneira adequada.
Durante sua palestra, Chér deu dicas e demonstrou métodos para que o engajamento seja eficiente. Além disso, ele ressaltou a importância de estar engajado para engajar. Essa foi a última participação de especialista neste módulo da convenção.
Durante a convenção os apresentadores nos mostraram a novidade da par: o Learning Book. O Learning Book é uma solução inovadora, simples e completa de conexão de alunos e professores por meio de uma plataforma digital.
Com um único login no Chromebook, alunos e professores têm acesso ao material digital da par do Ensino Médio, conteúdos e exercícios personalizados pelo professor, tarefas, simulados e provas diagnósticas, vídeos, animações, ferramentas colaborativas Google For Education, simuladores 3D e laboratórios virtuais da CloudLabs, além de relatórios de desempenho e acompanhamento da aprendizagem.
Confira o infográfico de Perguntas e Respostas sobre a BNCC.